De camisa aberta, dá para contar os gominhos do abdômen de Júlio Rocha. À primeira vista, ele impressiona pelo porte atlético. Mas o melhor é desvendá-lo aos poucos e ir além da aparência. Cafajeste sedutor da trama de Walcyr Carrasco, Caras & Bocas, seu primeiro vilão de fato, o ator se mostra, em conversa com CONTIGO!, um apaixonado pela família e pela namorada Josiane Chojnacki, com quem está há mais de um ano. Superfiel, segue o exemplo de amor que aprendeu com a família. ''É importante que o pai dê exemplo para os filhos. É o que vou fazer quando eu for pai'', revelou.
Você faz 30 anos dia 22 de outubro. Acha que vai mudar algo com a saída dos 20?
Cara, eu to até me questionando se tenho algum tipo de problema, em nenhum momento passa pela minha cabeça alguma coisa relacionada com a idade, o fato de fazer 30 anos. Nunca liguei pra idade e essas coisas, enfim. É como se eu tivesse fazendo 15, 20 ou 25 anos. Me sinto jovem ainda, encaro numa boa os 30. Acho ruim quando alguém começa a pensar na idade, no fundo... é, de certa forma, um medo ou uma autoanálise que não tem nada a ver com idade. É muito superficial analisar apenas sobre o aspecto do número. Sou um cara que aprendeu desde cedo que não precisa estar velho pra morrer ou não é velho que se morre. Meu irmão, José Eduardo, faleceu aos 16.
Foi sobre o seu irmão que você conversou com o Raul Cortez, não foi?
Eu tava no processo de montagem da peça Nossa Vida, escrita pelo Oduvaldo Vianna Filho e havia uma cena muito forte que eu precisava levar os pais pro asilo. Eu tinha muita dificuldade de chorar. Contei a história do meu irmão, que eu perdi, para o Raul em uma conversa sobre memória emotiva. Falei que evitava ver foto dele porque me machucava muito. Ele me disse que eu estava inibindo as minhas emoções e que eu devia lembrar do meu irmão porque ele existiu e não havia como esquecer isso. Se eu tentasse apagá-lo da memória, eu seria um cara duro, sem emoção. Suas palavras me ajudaram tanto no lado profissional quanto no pessoal. Lembro dele ter falado pra eu desobstruir as minhas veias emotivas.
Como essa conversa mudou você?
Eu sempre gostei de atuar, comecei na sétima série, e todo mundo via o resultado positivo das apresentações e do meu desempenho porque eu realmente gostava muito daquilo que fazia. Tanto que, ao sair da escola, procurei o (Teatro Escola) Célia Helena para me profissionalizar. E essa conversa que tive com o Raul, essa passagem, me motivou mais ainda. Me mostrou a importância do meu trabalho. Assim como o processo me transformou, eu também queria transformar as pessoas. Sempre acontecem algumas coisas que me mostram que elas valem a pena e que é isso que eu quero ser para o resto da vida.
O que o seu irmão significa na sua vida?
O meu irmão foi um verdadeiro anjo, um verdadeiro herói na minha vida. Quando um casal tem problema, geralmente, ele se separa, e os meus pais se uniram ainda mais. Esse foi o primeiro ensinamento que o meu irmão me trouxe. Ele, mesmo doente (de distrofia muscular), era um cara que acordava sorrindo, era extremamente amoroso, não tinha rancor nem raiva de ninguém, mesmo ao passar por muito preconceito porque era deficiente físico. Ele foi uma pessoa que me ensinou muito.
Como você vê o seu momento atual?
Estou caminhando bem, num momento superfeliz. O Edgar (Caras & Bocas) é o primeiro vilão de fato que eu faço. É um papel que todo ator sonha em fazer pelo que ele oferece e exige do profissional. Eu já tive várias cenas muito legais, diversos momentos bacanas e venho tendo cada vez mais, me dedico bastante a ele e o retorno tem sido muito bom.
Na TV, os homens bonitos costumam ter sua beleza usada a próprio favor. O rótulo de sex simbol incomoda você?
Esses trabalhos que mostram o umbigo aparecem. Acabo fazendo por conta do fotógrafo, da proposta, enfim. Os trabalhos que surgem são consequência dos personagens. E, geralmente, os meus têm usado a sedução como arma. Edgard pega a Deborah Evelyn, vai ter um caso com a secretária... Esse tipo desperta a fantasia das mulheres e dos homens também, né. Não levanto e digo:''Nossa, Júlio, como você é bonito'' ou ''Nossa, Júlio, você é galã''. Eu penso na cena, no que o autor quer. Mas não acho ruim me chamarem de galã. Quero que alguém me diga por que é ruim ser galã. Se tão me chamando de galã é que tô bem, né.
E para ser galã, é preciso manter a boa forma...
Uma galera mais velha no camarim começa a sentir a idade. Eu juro que continuo igual. Se eu tiver que pular muro, vou pular muro. Gravei umas piruetas numa cena de briga com o Malvino. Tenho até feito o trabalho dos dublês. Mas como muito e o meu corpo já deu uma mudadinha. Tô evitando comer fritura, comer depois das 20h. Mas sinto uma dor no ombro, que acho que é dos 30. Não sei de onde vem essa dorzinha (risos).
Por que você não consegue sair em São Paulo?
Vivo no aeroporto e trabalho no Rio. Fico em casa em São Paulo e em hotel no Rio.
Você não se encantou pelo Rio?
Não é questão de me encantar, acho o Rio bem bacana. E comecei a fazer novela, começo, meio e fim com o meu papel em Duas Caras. Minha família, meus amigos e namorada ficam todos em São Paulo. No Rio, quando fui jantar com uma amiga, me pegaram. Fui à praia e colocaram até um vídeo no Youtube. Sair em São Paulo é um luxo, ninguém te enche o saco. E, para os fãs, eu paro a qualquer momento.
Você namora a Josiane há mais de um ano?
Sim, construo meu relacionamento como todos os outros. Na vida, você tem que ser honesto, fiel, companheiro, e assim como eu ajo com a minha família, ajo com a minha namorada e com meu trabalho. De maneira fervorosa e intensa. Eu sou intenso com o namoro, com os amigos, com tudo.
Você é feliz?
De verdade, eu sou feliz. Não tenho tendência nenhuma à depressão, a ficar chateado. Aprendi a prestar atenção ao que verdadeiramente importa na vida. Olha, a gente tem um jardim na frente de casa. O nosso vizinho está com um problema de saúde, sem poder andar, e esses dias ele falou pro meu pai: ‘Te vi cuidar das plantas, deu uma saudade’’. Pra mim, ele quis dizer: ‘‘Como eu era feliz e não sabia’’.
De onde vem tanta força?
Do meu pai, da minha família. Pra você ter uma ideia, o meu irmão foi a primeira criança da América Latina com distrofia muscular a andar. Pra isso acontecer, imagina a dedicação e a entrega da minha família pra que ele pudesse ter o melhor. E não falo de bens materiais, falo de amor mesmo. Meus pais, mesmo sabendo que a probabilidade de vida dele era curtíssima, o colocaram pra estudar inglês, desenhar. O meu irmão desenhava muito bem. Era fora do comum. Ele gostava de desenhar dinossauros. Meus pais foram exemplos de família, de seres humanos. Sempre levei minha carreira, não tinha patrocínio da minha última peça, montava e desmontava o cenário. Meu pai estudava, trabalhava e fazia artesanato, vendia brincos. Ele sempre foi um cara que fez de tudo para a família viver bem, é extremamente fiel. Bate no peito e diz: ‘‘Nunca traí sua mãe’’. Os valores da família vêm se perdendo com o tempo. É importante que o pai dê exemplo para os filhos. É o que eu vou fazer quando for pai.
Quais seus novos projetos?
Eu vou estrear nesse próximo semestre como autor. Escrevi uma comédia inspirada na Susan Boile. Chamei a Patrícia Vilela, uma atriz de Porto Alegre. No espetáculo, ela fará diversos personagens.
Demorou muito pra escrever?
Não foi muito demorado. Escrevi em uma semana.
Uma semana?
Deve estar bom, né (risos)? Dei para várias pessoas lerem, inclusive as do elenco. Todo mundo me deu uma baita força. A peça é extremamente moderna. Fala dos problemas que as mulheres enfrentam, satiriza o best-seller O Segredo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário