sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Documentário de Farrah Fawcett é estranho e impressiona

Entre os canais de TV por assinatura, o GNT está, com toda certeza, entre os que agradam mais ao público que gosta de documentários. Seja pela qualidade dos programas, seja pela pertinência/atualidade do seus temas. Foi mais por este segundo motivo que me interessei “Farrah Fawcett: A jornada contra o câncer”. O programa mostra a luta da atriz de “As Panteras” contra a doença de que acabou morrendo em junho. O filme foi um dos programas mais vistos da NBC esse ano. Há momentos de humor, e muita, mas muita tristeza. Ryan O'Neal, ex-marido dela, a acompanha durante o tratamento e aparece o tempo todo. A produção tem algo de informativa, como quando mostra que tipo de tratamento Farrah foi fazer na Alemanha e há ainda registros de suas consultas médicas em Los Angeles.

Como programa não é grande coisa e, no geral, faz uma constrangedora exposição da intimidade num momento que muita gente preferiria não tornar tão público. O padrão estético reinante também é duvidoso. O espectador mais insensível ao drama pode, por exemplo, estranhar algumas sequências, como as que a ex-pantera registra os arranjos de rosas que tinha na sala de sua casa, ao lado de uma coleção de porta-retratos.


“A jornada contra o câncer” impressiona e aflige por sua enorme contradição. Farrah aparentemente acreditou num propósito iconoclasta, quis “mostrar a pantera como uma pessoa comum, vivendo um drama humano tão frequente”. Mas não conseguiu, claro (se é que quis de verdade), escapar da espetacularização. “Eu não quero morrer dessa doença. Então eu digo para Deus: 'Este é um ótimo momento para um milagre'", diz ela num dos momentos mais comoventes do programa. É terrível ve-la definhar. Farrah tem momentos em que fala como uma garotinha fragilizada. Isso faz lembrar um pouco um livro que conta a história de Brigitte Bardot (“Brigitte Bardot - un mythe français”), e no qual ela parece infantilizada, presa a uma imagem que já não existe. Ambas são mitos impossíveis de serem desmontados e humanizados, seja numa biografia, seja num programa de TV. Por isso, a sombra do exibicionismo num momento tão delicado atrapalha.

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