domingo, 21 de fevereiro de 2010

No ar em 'Tempos modernos', Priscila Fantin diz ter entrado em crise profissional várias vezes

Priscila Fantin já questionou sua trajetória profissional várias vezes. Acostumada a interpretar protagonistas ou antagonistas desde de sua estreia na TV, em "Malhação" (1999), a atriz assume que enfrentava crises ao fim de quase toda novela em que atuava. Depois de dar um tempo do vídeo - ela apareceu pela última vez em "Sete pecados", exibida até o início de 2008 -, decidiu fazer análise. Hoje, aos 27 anos, completados na última quinta-feira, ela encara a carreira de nova forma. Em cartaz no Teatro do Leblon com a peça "A marca do Zorro", Priscila, em dose dupla no ar, com a reprise de "Alma gêmea" e a exibição de "Tempos modernos", explica nesta entrevista à Revista da TV por que precisou mudar de atitude no trabalho e pediu para interpretar um papel de menos destaque na atual novela das 19h. Na trama de Bosco Brasil, ela faz a dançarina Nara Nolasco, que disputa com a mocinha Nelinha (Fernanda Vasconcellos) o amor de Zeca (Thiago Rodrigues).

Você voltou agora num papel de menos destaque depois de ficar quase dois anos sem fazer novelas. Foi uma decisão sua?

Nara tem o tamanho ideal para esse momento em que também estou no teatro. Agora posso elaborar mais e me dedicar com cautela ao papel. Esse é o grande prazer. Por não gravar tanto posso fazer a cena inteira, não preciso ficar no automático. Nara é uma dançarina super para cima. Mas é traída pelo namorado, fica com o orgulho ferido, parte para cima e vai cobrar satisfação. Não chega a ser vilã.

Foi isso que te motivou a voltar às novelas?

Uma protagonista exige muito e minha relação com o trabalho mudou. Não sei como seria fazer um papel principal nesta minha nova configuração.

Explique melhor essa configuração.

O trabalho para mim sempre esteve em primeiro lugar e foi assim durante dez anos. Notei o desgaste que isso gerou e não dava mais para ser assim. Sempre sentia um vazio enorme após uma novela. Eu me entregava demais aos personagens. Quando chegava ao fim passava o ano seguinte tentando me recuperar. Perdia a identidade e sofria muito para me achar de novo. Esse desconforto me fez repensar a carreira várias vezes.

Isso significa que a sua entrega era tão grande que você se misturava aos personagens?

Eu me confundia sempre com o personagem. Era como se eu desse vazão a um determinado aspecto da minha personalidade com o qual normalmente eu preferia não conviver. Claro que sempre mantive a minha essência acima de tudo, mas passei a me divertir e a sofrer também com os personagens. Era uma coisa sem medida, mas estou aprendendo a dosar.

Isso sempre aconteceu?

Foi todo um aprendizado na marra. A Tatiana da "Malhação" tinha um universo parecido com o meu. Aos 19 fui fazer a Maria de "Esperança" e falei: "Não dou conta, não sei trabalhar com a emoção". Mas confiei no Luiz Fernando Carvalho (diretor) e me joguei. Cheguei a sonhar em italiano e foi a primeira vez em que vivi uma pessoa totalmente diferente de mim. Maria engravidou, teve filho, sentiu a dor do parto... Era para eu ficar 18 capítulos e fiz a novela até o final. Ali me descobri como atriz, mas segui por um caminho de me entregar demais aos papéis.

Mas foi o seu entusiasmo pelo trabalho que te fez continuar? Como superou essas crises?

Começava a novela com a certeza de que amava aquilo. Durante o processo era consumida por me entregar demais. Passava a não ter só prazer com aquilo e o questionamento vinha de novo. Depois de "Sete pecados" tirei um ano sabático da TV e fui morar em São Paulo para fazer a peça "Vergonha dos pés" (estreia de Priscila no teatro). No ano passado fiquei três meses em Paris. Estudei francês e fiz um curso de edição de vídeos. E estou fazendo análise há nove meses.

A primeira crise veio na época de "Esperança"?

Na verdade foi ainda em "Malhação", mas por outros motivos. Queria trabalhar com Publicidade, na parte de criação. Nunca fui de assistir a TV e não tinha vontade de ser atriz. Era uma criança que jogava bola na rua. Achava que não iria me acostumar com essa vida (de fama) quando vim para o Rio ser atriz. Vivia num ambiente mais familiar e conservador e foi bem assustador vir para cá.

O que foi mais difícil na mudança de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro?

O simples fato de ter vindo morar no Rio já foi um baque. E isso aconteceu na mesma época em que apareci na TV. Sempre gostei da minha liberdade de andar na rua e pegar ônibus.

E como você virou atriz?

Sou baiana, mas fiquei lá só até os 4 meses. Morei dos 6 aos 16 anos em Belo Horizonte e tenho o jeito mais reservado do mineiro. Eu fazia fotos publicitárias porque era muito tímida e essa era uma forma de ser outra pessoa. A Globo fez uma busca de novos talentos e fui chamada para um teste depois que uma produtora viu uma foto minha numa agência. O convite para "Malhação" veio no período em que fazia um intercâmbio nos Estados Unidos. Relutei por quatro semanas até aceitar.

Sua relação com a carreira de atriz mudou depois que você passou a fazer teatro?

Passar a ter esse contato mais próximo com o público está me deixando mais à vontade com a exposição. Fui criada na TV. No teatro existe uma troca, dá para sentir a vibração das pessoas.

Você ensaiou "A marca do Zorro" durante meses. O que foi mais difícil?

Tivemos uma preparação física grande. Treinamos esgrima (Priscila participa de cinco lutas durante o espetáculo), treinamento de parkour e dança flamenca. Mas o mais difícil foi encontrar o tom da peça. No começo eram duas horas mais dramáticas, num ritmo mais lento. Foram feitos alguns ajustes depois e tive que seguir com esse universo sofrido da personagem (a mocinha Esperança), mas dar uma leveza, uma comicidade ao que era dramático por natureza.

E a exposição da sua vida particular? Isso ainda te incomoda?

Já me incomodou quando falavam alguma coisa que não era verdadeira. Isso era muito grave para mim. Lembro que na época de "Sete pecados" me arrumaram uns cinco namorados. Senti isso muito forte quando comecei na carreira. De repente eu estava sendo cobrada por várias coisas, tinha que dar satisfação da minha vida. Mas aprendi a lidar com isso.

Você se envolve com o universo do seu namorado, que é biólogo ?

Tenho uma relação muito legal com a natureza. O Miguel (D'Ávila) adora trilhas. Ele faz corrida de aventura e fica cinco dias no mato. Tento acompanhá-lo. Estou começando a escalar também (diz a atriz, que chegou de bicicleta ao teatro onde está em cartaz para a entrevista).

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