A julgar pela estreia, homenagem à trama exibida na década de 70 vai muito além da reciclagem de personagens. Horário das 23h, porém, é uma incógnita
Para inaugurar um novo horário de novelas, recorrer ao remake de um folhetim consagrado parecia a aposta mais segura que a Rede Globo poderia fazer. Mas O Astro, obra de Janete Clair agora escrita por Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro, não deve ser vista apenas como uma opção conservadora no esforço de recuperar o terreno perdido por minisséries e seriados que não emplacaram, como Aline, Divã, Lara com Z, que ficaram abaixo das expectativas de audiência da alta direção da casa.
A julgar pelo primeiro capítulo, a nova “novela das onze” (nem mininovela nem macrossérie), como a Globo finalmente resolveu batizar a atração, presta homenagem à novela exibida originalmente entre 1977 e 1978, mas vai além e promete algumas novidades. Autor do livro A seguir, cenas do próximo capítulo (Panda Books, 284 páginas), que esmiuça o universo da teledramaturgia no Brasil, André Bernardo chama atenção para a preocupação da emimssora de, mesmo com a atualização e as adaptações de formato, manter a fidelidade ao estilo de Janete Clair.
“O dinamismo do primeiro capítulo era uma das características mais marcantes da obra de Janete Clair. Sempre que possível, ela gostava de começar uma novela com um grande evento. Em Pecado Capital, foi um assalto a banco. Em O Astro, a perseguição a Herculano, e assim por diante. Janete Clair também era muito despudorada ao escrever. Um bom exemplo disso é a cena em que Márcio Hayalla imita São Francisco de Assis, renuncia à fortuna do pai e sai andando, pelado, pela casa”.
A famosa cena, aliás, mostra a característica principal desta nova versão: a agilidade em apresentar os conflitos. Ao transformar uma história de 186 capítulos em outra de 60, os autores ganharam uma trama mais enxuta e dinâmica. Em uma conta simplificada, seria como fazer cada três capítulos de Janete correspondem a um de Alcides e Geraldo. Se na versão original a cena da perseguição a Herculano fechou o primeiro capítulo, desta vez, a seqüência aconteceu com menos de cinco minutos de história no ar. A cena em que Márcio Hayalla renuncia à fortuna do pai aconteceu no capítulo nove da novela de 1977. Já no remake, a mesma cena foi puxada para de estréia.
De cara, parece óbvia a reverência a Francisco Cuoco, “O Astro original” que agora assume o papel de Ferragus, mentor intelectual de Herculano (Rodrigo Lombardi) na prisão. Mas o personagem criado na nova versão especialmente para homenagear o ator que mais vezes trabalhou com Janete Clair é mais um diferencial da série de agora. “Achei muito boa a idéia. No caso do Ferragus, além de ser uma merecida homenagem a Francisco Cuoco, trata-se também de uma figura importante dentro do universo da jornada do herói: a do mentor”, afirma.
Bernardo acredita no sucesso artístico da nova versão de O Astro, mas lembra do fracasso de outros remakes de obras consagradas. “A julgar pelo primeiro capítulo, as expectativas são as melhores possíveis. Mas Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro terão pela frente a ingrata tarefa de emplacar um remake bem-sucedido da obra de Janete. Nunca é demais lembrar que todos os outros (Selva de Pedra, Irmãos Coragem, Pecado Capital e, mais recentemente, Vende-se um Véu de Noiva, no SBT) ficaram devendo”.
Sobre o sucesso de público, o escritor ressalta que a audiência pode ser afetada pelo horário de exibição, após as 23h. “Será que o público vai topar ficar acordado até tão tarde para acompanhar a novela? Sinceramente, é uma resposta difícil”, diz. Bernardo, no entanto, considera que o novo horário pode ser um trunfo, pois significa que os capítulos são exibidos depois que “família brasileira já foi dormir”, “Os autores podem carregar nas tintas e apostar em temas mais adultos, ousados”, afirma, atestando que a nudez e as cenas mais picantes entre Herculano e Amanda deverão ser um chamariz para a audiência.
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