quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

É difícil ser Sean Penn

Machão, politizado e avesso à imprensa, o ator até brinca com sua aparência, mas quando se trata do papel pelo qual foi indicado ao Oscar, o de ativista homossexual em Milk - A Voz da Igualdade, nada de piadinhas

Sean Penn, 48 anos, se leva muito a sério. E, tirando seu trabalho como ator ou diretor no cinema, já não tem paciência para muita coisa. O ator começou com filmes juvenis bobos (Picardias Estudantis, 1982), virou badboy, casou-se com Madonna, virou ativista atuante (seja criticando o governo dos Estados Unidos ou posando ao lado do presidente da Venezuela, Hugo Chávez), voltou à vida rock'n'roll (quando se viu em meio a histórias de orgias e bebedeiras com mulheres, em 2007), teve de administrar um pedido de divórcio (depois arquivado) de sua mulher, Robin Wright Penn, 42, com quem é casado há 12 anos e tem 2 filhos, Dylan, 17, e Hopper, 15. Sua vida não é fácil. Agora, está com o pé atrás com a imprensa até para falar de seu novo papel, o do ativista gay Harvey Milk, assassinado no final dos anos 70, pelo qual recebeu uma indicação ao Oscar.

O filme Milk - A Voz da Igualdade, que estreia na próxima sexta-feira (20), é uma das grandes atuações da carreira do ator e tem mais sete indicações, incluindo Melhor Filme e Direção. No papo abaixo, ele não brinca com a eterna antítese de sua persona, a de machão, mas brinca com a aparência de quase cinquentão.

Qual foi a coisa mais importante que aprendeu sobre você mesmo ao fazer esse filme?
Toda vez que faço um filme me dou conta do quanto estou envelhecendo só de ver a quantidade de pés-de-galinha que aparecem em meu rosto (risos).

Como foi interpretar um personagem gay?
Atores não interpretam heterossexuais ou homossexuais. Nós encarnamos seres humanos. Levo muito em consideração essa minha descoberta. Este é um filme sobre direitos iguais para seres humanos.

Por que você se interessou pelo papel de um líder político gay assassinado 30 anos atrás?
Meu interesse primeiro foi a chance de trabalhar com Gus Van Sant (56, diretor do filme), que é incapaz de realizar um filme irrelevante. Ele é um dos nossos maiores cineastas e um dos mais originais. Isso combinado, claro, com o fato da natureza da história desse homem em particular, que é comovente e estimulante ao mesmo tempo.

Que elementos foram mais úteis para a construção do personagem?
Para mim, começou com minhas conversas com Gus. Então veio o roteiro de (Dustin) Lance (Black), que me guiou até Harvey. Depois, comecei a estudar as imagens de arquivo sobre ele, as reportagens, as entrevistas, que me fizeram entrar na história dele. Quero dizer, cada um desses elementos ajudou a minha interpretação a ficar mais e mais forte.

Interpretar alguém que realmente existiu exige mais responsabilidade por parte do ator?
Para falar a verdade, a gente tenta não pensar muito sobre essa questão. É um convite à pressão. Mas o que me mais me impressionou sobre a trajetória dele foi que, dentro ou fora do universo político, Harvey Milk teria sido uma figura de força política, simplesmente porque era uma dessas pessoas que enfrentam os mais óbvios obstáculos com coragem e ternura. Ele foi uma alma gentil, e isso se destacava em tudo que fazia. No fim das contas, só precisei seguir o texto do roteirista e as orientações do diretor. Minha afeição por Havey Milk só cresceu, à medida que o conhecia melhor e melhor.

Os gays estão ganhando cada vez mais papéis centrais em filmes e programas de TV. Como você acha que o filme pode contribuir para esse fenômeno?
Milk - A Voz da Igualdade mostra um punhado de seres humanos bem-intencionados, de bom coração. A maneira que escolheram para fazer sexo é totalmente irrelevante nisso tudo. É essa imagem de Harvey Milk que o filme quer enfatizar. Ela, em si, já pode ser um material suficientemente forte, capaz de diminuir um pouco mais o preconceito. É uma questão de entrar nessa realidade e se sentir mais confortável com o contato com essas pessoas e sair da experiência menos confuso. E com menos medo também.

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