quinta-feira, 30 de abril de 2009

''Caio só por cinco minutos''

Aos 27 anos, a cantora e atriz revela que não é só doçura: nada de casamento, filhos e muito menos fossa!

Diante de uma mala lotada de roupas, Marjorie Estiano escolhe apenas uma para usar no ensaio fotográfico que ilustra as próximas páginas. Alguém sugere um vestidinho romântico. A atriz não se convence muito. ''Acho que tem de colocar rebeldia nessa doçura'', diz, com jeitinho, mostrando jogo de cintura para fazer valer o seu desejo. As pernas, à mostra sob a meia-calça arrastão, são o toque de sedução ideal para o ensaio. O rosto de garota engana e ela tem consciência disso. São 27 anos e essa mulher diz estar de bem com a idade que tem. No quesito paixão, Marjorie é consistente, mas não se acomodou - achou um método adequado para seus desejos. Há quatro anos com o violonista André Aquino, 34, com quem divide os palcos quando encarna seu alterego cantora, ela percebeu que ''é uma ótima'' cada um ter sua casa - e até dormir em quartos separados. Se ligar o ar-condicionado, que André adora, Marjorie sofre, pois é alérgica. Casamento oficial? Não precisa. Filhos? Por enquanto não. O foco agora é a atual personagem, Tônia, em Caminho das Índias, uma jovem que acompanha o drama do namorado, que desenvolve uma doença mental. E sobre isso, ela confessa: ''Tem uma voz que eu ouço dentro da minha cabeça, que me parece uma pessoa mais crítica. A médica (consultada durante o laboratório para a personagem) disse que muitas vezes as vozes que os pacientes ouvem são agressivas. Eu também ouço essa voz (risos)! Mas ela disse que não é a mesma coisa. Mesmo assim, é uma voz muito cruel, me critico o tempo todo (risos)'', brinca enquanto reflete sobre sua vida.

Explica melhor esse desejo de colocar ''rebeldia na doçura''...
Eu tenho cara de ser mais nova do que sou. Estou com 27 anos, mas geralmente me dão 18, 19. Dentro de mim, existe a rebelde e a doce. É meio a meio. Há coisas que pedem uma agressividade maior. Não digo uma violência, mas preciso me impor mais. Ter ido para São Paulo aos 18 foi um ato de rebeldia, levar um monte de não, se frustrar por não passar em cada teste e continuar... Isso exige agressividade. Se você é doce, frágil, não aguenta.

Em algumas entrevistas que você já deu...
...deve ter lido que eu sou muito tímida, certo?

Exatamente.
Quando falo que sou tímida, entendem o tímido como uma pessoa que não consegue se expressar direito, que não vai atrás do que quer. A minha timidez se assemelha à da Tônia. Ela é impulsiva, não deixa de fazer nada. Quando resolve beijar, é como se estivesse dando um bote (risos). Mas eu sou muito racional. Coloco muito peso nas escolhas como se fosse a decisão da minha vida, irremediável. Tônia é mais leve.

Durante os workshops sobre doenças mentais que frequentou, o que mais a chocou? Encontrou ligação com algum conflito seu?
O tempo todo (risos). Pensava: ''Gente, eu também me sinto assim ou assado, será que vou surtar?'' Acho que lido bem com minhas frustrações. Justamente esse lado mais rebelde e determinado é que me permite levantar e continuar. Caio só por uns cinco minutos. Eu não curto fossa.

E quando foi o seu desabrochar?
A primeira vez que enxerguei que existia homem e mulher eu devia ter uns 15 anos. Antes, eu não me interessava, não tinha essa sexualidade. Hoje, as meninas começam cedo. Um dia, fui passar o Natal na casa da minha avó, no interior, e lá um rapaz se interessou por mim e a minha prima veio me contar. Pensei: ''Eu posso isso? Tem isso, né?'' Mas eu voltei para Curitiba e, só então, percebi que tinha acontecido alguma coisa comigo, porque eu continuei pensando nele. Eu ia para o quarto só para pensar nele. E não tinha acontecido nada entre a gente. Eu adorava imaginar como teria sido, sabe?

Há quatro anos, você namora o músico André Aquino...
E estou muito feliz. É uma relação como qualquer outra, em que a gente discute, se desentende, se reconcilia, ri e chora. Eu nunca tive uma parceria nesse nível de identificação. É a evolução de uma grande amizade. Se uma hora a gente terminar, vai ser amigo para sempre. Nunca me interessei por ninguém à primeira vista, é engraçado. Pode parecer clichê, mas acontece comigo. Eu vejo uma pessoa bonita e ela não me atrai por isso. Eu preciso conversar e é com base no diálogo que ela me atrai. O André é extrovertido, rápido, inteligente. Tem leveza. Ele é encantador...

Pensa em se casar?
Vou apelar de novo para o meu lado clichê (risos). O casamento é um encontro de interesses. Independe se você vai para a igreja e bota um anel ou se mora junto. É uma parceria. Eu já me encontro absolutamente comprometida. Agora, filhos, eu pretendo ter, mas também não acho que isso dependa do morar na mesma casa. Filhos dependem de estabilidade financeira e emocional.

Já disse ser adepta da convivência com quartos separados. Não é melhor logo cada um em sua casa?
É por isso que a gente não mora junto! Dividir um apartamento é um casamento, e cada um tem suas manias. Um é mais organizado, o outro é mais desorganizado. Para começar, o ar-condicionado é um elemento muito forte nessa questão do quarto (risos). Eu sou alérgica e o André só dorme num frigorífico. Para ele tem de estar geladíssimo e eu não me dou bem com isso. Já começa por aí (risos)! Acho difícil a convivência em casal. Aí, entra a história da doçura e da rebeldia. São duas pessoas, duas cabeças, duas criações. Por mais que tenha identificação, o dia-a-dia com aquela pessoa, convivendo com coisas que lhe incomodam, você tem de ser articulado para não fazer disso uma briga o tempo todo.

O que é ser bonita para você?
Ai, gente, que difícil (risos)! É um estado de espírito, é ser agradável, é ser leve. Não importa o quão bonita você é se for uma pessoa insuportável, mal-humorada, se não agradar.

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