domingo, 21 de novembro de 2010

Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1

Quarta-feira, 17 de novembro. O tempo frio e chuvoso e a pouca movimentação em frente ao cinema de Berlim não pareciam combinar com a aguardada estreia que estava por começar. A sala, apesar de lotada, não continha o público histérico, louco para ver o começo do fim da saga do bruxinho mais famoso do mundo. No fundo, aquele clima civilizado e mais maduro que as outras estreias de Harry Potter anunciavam o tom do novo filme da franquia.

Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1” acompanha Harry (Daniel Radcliffe), Ronnie (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson) em busca das horcruxes e de como destruí-las, a fim de minar os poderes de Voldemort (Ralph Fiennes), que dominara o mundo dos bruxos, desde a morte do mago Dumbledore.

O roteirista Steve Kloves se concentrou, nesta primeira parte, na busca por apenas uma horcruxe, o que lhe deixou livre para contar com muita calma a história e se concentrar mais nos personagens e menos na ação, preparando o terreno para o final apoteótico que parece estar por vir. Algumas sequências de ação e corre-corre estão lá, mas não são o grande atrativo.

Surpreendentemente, este é o mais introspectivo filme da série e David Yates – ao contrário do que muitos fãs reclamaram em “O Enigma do Príncipe” – foi bastante fiel ao livro. E hay do fã que reclamar que algum detalhe está faltando! Está tudo lá, com tanta calma, que em vários momentos o filme mais se aproximava de um cult do que de um arrasa-quarteirão. Sobra espaço até para uma ceninha – enfadonha, que se diga – de dança entre Harry e Hermione. É um presente aos fãs, que já devem começar a se despedir do seu objeto de desejo de anos.

Os incontáveis cenários (sonho e pesadelo de qualquer direção de arte) são explorados ao máximo pela fotografia, com sua gelidez, hostilidade e inospitalidade. O português Eduardo Serra (o diretor de fotografia) não teve medo de arriscar e utilizar, por várias vezes, câmera na mão, desfoques e granulados nas imagens, recursos difíceis de serem digeridos por um público tão acostumado à assepsia visual dos filmes de ação e efeitos.

Efeitos visuais, aliás, que cumprem o seu papel com brilhantismo, como era de se esperar. As criaturas daquele universo, como os Goblins, ressurgem em perfeição de detalhes, texturas e expresões faciais. Há ainda a inclusão de uma animação genial, de cerca de dez minutos, suave e poética.

David Yates realizou um filme introspecto, com cara de cult, mas que tem tudo para agradar os fãs vorazes dos filmes e dos livros de J.K. Rowling. E isso só foi possível graças à escolha acertada de adaptar o último livro em dois filmes. O estúdio (Warner Bros) uniu o útil (contar a história com calma e fidelidade) ao agradável (ter outro filme para fazer mais dinheiro).

É assim que o último filme dá certo: o primeiro abaixa a poeira e analiza o âmago dos personagens; assim, quando a ação tomar conta da segunda parte, a história já não será mais vazia e atropelada como seria, se tivesse pouco tempo para ser contada.

Espera-se, agora, que o melhor esteja guardado para o final.

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