quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

CRÍTICA/‘Afinal, o que querem as mulheres?’, a despedida

Agarrado a balões de gás — representações de seu desejo — , André Newmann encerrou a sua jornada em “Afinal, o que querem as mulheres?”. A série dirigida por Luiz Fernando Carvalho, escrita por ele e João Paulo Cuenca, Cecília Giannetti e Michel Melamed chegou ao fim na última quinta-feira. A que distâncias os balões de ar-anseios podem levá-lo ou se eles vão ou não explodir no vazio são questões irrespondidas e expressas de uma maneira lírica, plasticamente criativa, em desenhos delicados pelos quais o personagem, parece, vai continuar sua marcha. Se a série não respondeu à pergunta do título e apenas reforçou a imagem lançada por Freud de que as mulheres são um continente obscuro, ela fez muito bem à televisão.

No último episódio, a viagem foi menos onírica do que há seis semanas, quando Newmann-Édipo começou sua jornada no divã. A narração feita por Melamed se intensificou, as frases de efeito e a condução da trama por um fio lógico, idem. Houve, entretanto, algumas divagações, como a cena em que Celeste (Vera Fischer) virou a Nora de “A casa das bonecas”, peça de Ibsen à frente do seu tempo e que ajudou a plantar a bandeira do feminismo muitos anos antes do movimento da década de 60. Newmann passa a ocupar outro lugar na linha das gerações: torna-se pai. Mas, como crescer não é um caminho em linha reta, depois desta breve visão por uma janela feminista, ele devolve sua mãe ao mundo doméstico. É a ela que ele entrega a filha, Maria, para que possa sair e reencontrar Lívia (Paola Oliveira).

O que Newmann descobre agora? Que não há ciência capaz de garantir a compatibilidade de um casal. Mesmo com nota baixa nos testes operados por uma especialista, numa participação especialíssima de Susana Kruger (em mais uma brincadeira em torno do conhecimento da mente humana, desta vez um deboche do behaviorismo), ele se une a Sophia (Letícia Spiller), para depois ver a relação naufragar. É que, como explica numa dupla citação ao mito de Narciso e a Jorge Luis Borges: “Estamos todos perdidos nos labirintos espelhados dos nossos desejos”

Antes do fim desta última crítica a “Afinal o que querem as mulheres?”, é preciso reforçar todos os elogios ao figurino (Beth Filipecki), à cenografia (João Irênio), à direção de arte (Laura Tausz) e à direção de fotografia (Adrian Teijido). Não se pode deixar de dizer ainda que as músicas que embalaram os seis episódios também foram escolhidas de acordo com o baú de memórias de Newmann. É um mosaico desigual que, em cacos, compõe a história do personagem. Vimos também atores estupendos. Michel Melamed, embora coautor e portanto conhecedor do texto, conseguiu dar ao seu personagem a perplexidade fundamental para que ele parecesse sempre em “plena descoberta”. Vera Fischer, Tarcísio Meira, Osmar Prado, Letícia Spiller e Rodrigo Santoro brilharam. O mesmo aconteceu com a estreante Bruna Linzmeyer, que promete ir longe.

“Afinal, o que querem as mulheres?” respondeu a pelo menos uma pergunta: é possível atravessar novas fonteiras numa televisão aberta, para as massas? E essa resposta é sim.

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