Nos próximos capítulos de “Viver a vida”, Tereza vai procurar uma cartomante. O objetivo é simples: saber se o destino lhe revela algum futuro amoroso promissor. Diante do silêncio da vidente, ela sugere: “Pode ser de 40... mas se tiver de 50... assim... de 60 também está bom. Até abaixo dos 40...”. Quando acaba a consulta, Tereza está feliz. Afinal, as cartas dizem que, sim, haverá um homem. O que poderia parecer uma cena corriqueira e até sem grandes pretensões se transforma em mais um momento único da personagem. Tereza se volta para a cartomante e dispara com brutal sinceridade: “Sabe o que é? Tenho muito medo de esquecer como é o abraço e o beijo de um homem”.
— Isso é de uma franqueza e uma honestidade com ela mesma incríveis. Tereza diz o que sente, o que pensa. Sem máscaras. Ela é um pouco de todas nós — define Lilia Cabral, que em duas semanas no ar já demonstra, mais uma vez, sua porção “ladra de cena” na pele da ex-modelo amargurada pela separação do único homem que amou.
— Tenho um grande e raro prazer em escrever para a Lilia. Eu dou bijuteria e ela me devolve pedra preciosa, ouro puro. Ela é incrível. Quando começo a escrever uma cena com ela, o difícil é parar — derrama-se o autor Manoel Carlos, que deu a Lilia, Marta, sua personagem mais marcante na TV, e chega a compará-la às suas heroínas: — Ela é determinada e sedutora, como são as Helenas e as grandes protagonistas da ficção e da vida.
Pela primeira vez na pele de uma mulher elegante e sofisticada, a atriz não para de ouvir que está linda.
— Quando entro no estúdio, depois de todos esse elogios, penso: não tem Gisele Bündchen que seja páreo para mim.
Muitas Terezas
“Nos seis primeiros capítulos, pude sentir a proximidade com as mulheres, não só com as que foram trocadas, mas com aquelas que se divorciaram e viram seus ex-maridos refazendo a vida. Há um inconformismo por parte delas, que ainda não se refizeram, porque ainda gostam ou sentem saudades... Comecei a perceber que ali teria um apoio, independentemente de ela ser chata, arrogante”.
Sem papas na língua
“Tereza é ferina, fala o que quer e o que pensa. É voluntariosa, não mascara as coisas. Eu também, como atriz, não tenho pudor em não defender o personagem. Se ele é chato é chato, se é cricri é cricri. E quando é humano é humano, com seus erros e acertos. Porque nós também somos assim. Temos o lado bom e o ruim”.
Curso da história
“Não sei o que vai acontecer. Só o fundamental, que é a tragédia com a filha mais velha, a Luciana (Alinne Moraes), que fica paraplégica após um acidente. Conheço o estilo do Maneco (o autor). Cada capítulo é uma surpresa. Se tiver esse impacto em cada cena até o fim da novela, serei profundamente feliz”.
Cenas difíceis
“A cena mais difícil até agora foi a que Tereza apareceu meio bêbada, conversando com o Marcos (José Mayer) se abrindo, apostando as fichas numa volta. Essa cena é típica da mulher que foi rejeitada... E a Tereza é uma mulher bonita, não é decadente, tem cultura. Dá uma nostalgia e fraqueza, sabe? Nenhuma mulher gosta de se ver fragilizada, e quando faço uma cena dessas, tenho que lembrar de todas as vezes em que pedi: ‘Pelo amor de Deus, não vá. Não é bem assim. Não me entenda mal’. A gente passa por essas situações. E não é coisa só de quem tem 50, 60 ou 70 anos. Mas aos 20 também acontece”.
A arte não imita a vida
“Já passei por uma situação parecida com a de Tereza e Marcos, mas era muito jovem. Graças a Deus hoje tenho um casamento muito estável (ela é casada com o economista Iwan Figueiredo), somos companheiros e amigos”.
Um pouco da personagem
“Me comparo a Tereza em alguns aspectos. Enxergo um pouco de ciúme, um olhar de inveja, de fraqueza, uma meiguice, uma generosidade, um egoísmo.
Também devo ter tudo isso. O que me faz entender muita coisa. Entendo essa mulher vitimizada, que diz que largou o trabalho por causa do casamento... Pô, largou porque quis! Se batesse o pé, continuava casada e com uma carreira. Meu marido ia amar se eu dissesse: ‘Amor, vou largar minha profissão e me dedicar só a você’ (risos). Mas tenho temperamento forte, não largaria nunca. A maioria das mulheres se vitimiza. A gente faz isso, faz escolhas.”
Protagonista de novela
“Essa coisa de martelarem quando serei protagonista na TV é muito chato! Me colocaram no papel de vítima. ‘Páginas da vida’ foi um divisor de águas na minha vida, sem dúvida. Meu trabalho parou nas mãos de gente especializada em TV do outro lado do mundo. ‘Laços de família’ foi lindo, ‘Por amor’, ‘Vale tudo’... A Marta foi muito especial e não era protagonista. Quando falo do meu trabalho, falo de um conjunto. Não fico preocupada se sou ou não protagonista. Enche o saco! Como se fosse meu objetivo ser só isso. Estou tão feliz com esse trabalho, e não sou a protagonista, Sou feliz com o que tenho. As pessoas acham que a gente não pode ser feliz com o que tem. É disso que a novela fala. É só saber ser feliz, sem precisar ficar olhando o do outro. Nunca sofri por isso. Nunca pensei: por que ela e não eu?”
Ciumeira
“Estou na vigésima-quarta novela. E nunca estive num elenco com tanta harmonia, tanta generosidade. O que é mais difícil, às vezes, é tratar com carinho e generosidade o outro e saber aceitar que, de repente, aquele tem mais que você neste momento. Já estive em alguns trabalhos em que outros atores tinham mais que eu, e tive que me contentar com a minha parte. Este elenco é muito especial. Todo mundo trabalha pelo trabalho e não pela fama. José Mayer, Natália do Valle, já trabalhei com eles. Faço questão de falar, de elogiar ou de conversar quando é importante dar um toque, sempre com muito cuidado. Estamos caminhando para 2010. Essa ciumeira, a competição, a invejinha que rolava antigamente já foi. Se a gente fica nesse mundo da competição não cresce”.
As filhas emprestadas
“Fico observando os atores jovens. Eles me observam e eu também tenho que observá-los. As minhas filhas na trama (Alinne Moraes, Paloma Bernardi e Adriana Birolli) são ótimas. Com papéis difíceis, cheios de conflitos. E vejo como elas trabalham com a sensibilidade. Às vezes, nós, atores mais experientes, temos uma certa técnica que nos dá o caminho. Elas estão ali, nuas, começando. E a gente tem que olhar para isso, senão fica velho e ranzinza”.
A filha legítima
“Minha filha (Giulia, de 12 anos) não se vê em nenhuma das três. Mas está amando me ver chique. Sábado foi aniversário de 60 anos do meu marido, dei um jantar em casa, e precisava ver o capítulo. Vimos juntos. No fim, a Giulia disse, toda contente: ‘mandou bem, mãe!’. Eu estava lá, lindona, num desfile, poderosa mesmo. Até então, ela nunca tinha me visto assim. As novelas das seis que ela assistiu eram mulheres mais simples. E das oito, a primeira que ela viu foi a Marta, que era uma mulher sem glamour. Na ‘Favorita’, ela me assistiu numa cena em que a Catarina estava toda desarrumada e apanhava muito. Quando acabou, ela olhou bem nos meus olhos e disse: ‘você vai jurar que nunca mais vai aceitar um papel como esse’. Ela não queria ver a mãe maltratada. E, agora, eu assim, linda e poderosa, ela tá se sentindo radiante. A filha mesmo é ela. O resto é emprestado (risos)”.
O Zé que todas querem
“ Zé Mayer é adorável e ele es tá no auge total. Esta semana, estava com o olho meio inchadinho e chegou ao estúdio dizendo: ‘isso é olho gordo da Lilia Cabral’. E eu respondi: ‘Meu filho, se você não estivesse contracenando comigo nessa novela, sua carreira estaria desabando (risos)’. Tenho a maior admiração por ele, é um companheiro para toda a vida”.
Quem sabe um garotão?
“Seria engraçado a Tereza ter um garotão. Mas, para mim, ela vai amar Marcos até morrer. Na minha cabeça sempre tem uma cena: uma mulher mais velha, com cabelos ao vento, na garupa de uma moto. O motoqueiro vem resgatá-la (risos). As mulheres iriam adorar e eu também ficaria muito agradecida se fosse um garotão bem lindo!”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário