sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Alunos sofrem retaliação por vídeo de sexo na escola

Foram exatos dois minutos e trinta segundos. O tempo exato para que uma estudante da oitava série deixasse de ser a ‘menina bonitinha de óculos que vivia quietinha’, como a definiu um estudante do mesmo colégio e passasse a ser ‘a vagabunda que se deixou filmar fazendo sexo oral no banheiro da escola’, como disse outra estudante do mesmo colégio. Um dia depois de mais um escândalo envolvendo a tríade sexo-adolescente-internet, o assunto ainda era o tema principal nas rodas de alunos do colégio Ulysses Guimarães, em Nazaré.

“Estamos com vergonha de vir para a aula com o uniforme do colégio porque no ônibus as pessoas ficam chamando a gente de ‘boqueteiras’ do Ulysses Guimarães”, diz a estudante J.B, de 16 anos, que havia chegado atrasada e não pôde entrar para assistir aula. Ficou na frente do colégio conversando com outras alunas sobre o episódio que, mais uma vez, levanta discussões sobre o comportamento atual dos adolescentes frente ao sexo, à intimidade e à internet.

De uma hora para outra, a adolescente de 13 anos, considerada boa aluna pela direção do colégio, com boas notas e bom comportamento, foi submetida a vários julgamentos sumários. De ‘vadia’ à ‘ingênua’, vários foram os adjetivos apregoados. “Minha mãe pensou em me tirar do colégio depois disso”, disse J.B. Na entrada do colégio alunas do Ulysses Guimarães e do colégio Deodoro de Mendonça comentavam o assunto enquanto assistiam ao vídeo no celular de um aluno do Deodoro de Mendonça.

Dois minutos e trinta segundos. O vídeo resultante do fortuito sexo oral envolvendo os três estudantes do colégio foi mais uma ideia surgida através de bate-papo na internet. Naquela tarde, a adolescente chegou na hora de sempre, encontrou com os dois amigos e foram até um banheiro reservado, no fundo da quadra do colégio. Se era uma diversão restrita aos três, não se sabe. O que se sabe é que não demorou muito e as imagens já estavam em sites de compartilhamento de arquivos. Como um vírus as imagens saltaram de celular a celular. Daí para sites.

Ontem, a diretoria da escola reuniu com a polícia e com a Seduc, visando ações que repilam situações como a que ocorreu no banheiro do colégio. Os alunos envolvidos no caso continuam matriculados no Ulysses Guimarães, mas a secretária de Educação do Estado disse que a intenção é manter os alunos na rede, mas em outros estabelecimentos. A Delegacia de Repressão aos Crimes Tecnológicos já começou a investigar o caso. O site que divulgou inicialmente o vídeo já foi notificado e retirou as imagens.



OUTROS CASOS

Não é a primeira vez que vídeos dessa natureza são feitos e divulgados na rede mundial de computadores. A origem não é exclusiva de colégios públicos ou escolas privadas. Quase todos os estabelecimentos escolares têm histórias para contar. Num dos mais tradicionais, situados no bairro de Nazaré, uma aluna foi filmada pelo próprio namorado enquanto faziam sexo no banheiro da escola. O vídeo se espalhou rapidamente e a adolescente teve que mudar de colégio, mudar o número de celular. Talvez, mudar de vida, porque a anterior fora destruída.

CORRIQUEIRO


Um professor de uma escola do bairro da Terra Firme diz que esses vídeos têm se tornado mais comuns do que se imagina. “Houve uma ocasião em que flagrei várias meninas se deixando filmar de calcinhas arriadas. Era uma espécie de concurso para ver quem tinha o sexo mais bonito”, diz o professor. Em outra ocasião, o mesmo professor flagrou uma situação idêntica à do Ulysses Guimarães. “Geralmente, por incrível que pareça, são bons alunos que fazem isso”, diz ele, que não denunciou o ocorrido por uma ‘estratégia de sobrevivência’.

Situação é considerada um crime

Mais do que uma situação constrangedora, o que ocorreu com a adolescente do colégio Ulysses Guimarães é um crime. E é também uma prática que vem ocorrendo com maior frequência, o ‘cyberbullying’, uma prática realizada através da internet que busca humilhar e ridicularizar os alunos, pessoas desconhecidas e também professores perante a sociedade virtual.

“Infelizmente os meios tecnológicos que, a priori, seriam para melhorar e facilitar a vida das pessoas em todas as áreas estão sendo utilizados para menosprezar e insultar outras pessoas. Não existe um tipo de pessoa específica para ser motivo de insultos, sendo que a invasão do e-mail ou a exposição de uma foto já é o bastante. As pessoas que praticam o ‘cyberbullying’ são normalmente adolescentes sem limites, insensíveis, insensatos, inconsequentes e empáticos. Apesar de gostarem da sensação que é causada ao destruir outra pessoa, os praticantes podem ser processados por calúnia e difamação, sendo obrigados a disponibilizar uma considerável indenização”, explica a pedagoga Gabriela Cabral, em artigo para a revista virtual Equipe Brasil Escola 20.

O psicólogo Manoel de Christo Neto diz que os casos não se restringem ao universo adolescente e sim espelham um momento cada vez maior do individualismo e exibicionismo da sociedade. “Os reality shows são um exemplo disso. Une o exibicionismo com o voyeurismo, ou seja, pessoas querendo ver e pessoas se exibindo para essas pessoas”.

Além disso, o psicólogo ressalta que as fronteiras entre o público e o privado estão cada vez menores. “As chamadas redes sociais como Orkut e Facebook têm esse lado de as pessoas precisarem divulgar o tempo todo o que fazem. E uma das conseqüências desse mundo virtual seria que as relações se tornaram, como diz uma nova teoria, líquidas, sem maiores raízes”.

Segundo Manoel de Christo, o individualismo nessas relações faz com que o outro não exista. “Ele é visto como um objeto, um troféu. Não é alguém cujos sentimentos importam”. Foi o que ocorreu com a adolescente.

Ontem à tarde, dois policiais militares circulavam no interior do Colégio Ulysses Guimarães. A diretora não estava na escola e a vice-diretora informou, que ‘tudo sobre o caso já havia sido dito’. Hoje de manhã será feita uma palestra sobre o tema para os alunos do colégio.

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